Fome

Eu não consigo ler direito alguns sinais.

Não entendo por que você volta se é pra, daqui a pouco, me lembrar que a gente não tá junto porque você não consegue me desvincular de uma imagem mais que ultrapassada de mim mesmo.

"Melhor assim leve, né?" Olha, seria se no outro dia não estivéssemos nesse mesmo lugar. 

Se você não insistisse em ficar me lembrando que a gente não tá junto e não vai ficar junto. Se você não falasse isso com essa intensidade toda, com essa força toda, quase que com raiva, como se você tivesse se protegendo de mim. Como se eu tivesse forçando você a fazer alguma coisa que você não quer e isso é horrível. 

Porque aqui tá pesado. E é pesado pensar que é um flerte quase em tom de brincadeira porque não pode significar absolutamente nada nesse momento. Não pode porque você continua me dizendo que a gente não cabe no seu momento de vida. É pesado ter que pensar que não pode significar absolutamente nada toda vez que você me fala que não estamos juntos, mas me mostra que a gente tá mais junto do que estávamos quando tudo isso começou. 

É pesado pensar que você fala sobre querer e não conseguir, ou não ver sentido agora. Você fala sobre me querer, mas não sente que tem abertura pra se permitir me conhecer de verdade, mesmo que seja durante seu processo de autoconhecimento. Você fala sobre me querer e saber o quanto te apoio e faço bem, mas tem certeza que comigo você não se escolheria quando tivesse que se escolher ou não se permitiria se conhecer estando do meu lado. Porque no final é isso, né? Conhecer de novo. Se conhecer e conhecer o outro todos os dias um pouco e entender que não é uma transição que muda as pessoas, é o tempo. 

Foi o tempo que me mudou, foi o tempo que te mudou (mesmo que você não veja). E isso acontece tudo junto e misturado. 

E eu tenho medo de escrever sobre isso e fazer com que você segure esses seus impulsos de falar comigo que, mesmo sendo migalha, eu aceito como se fossem banquete. 

Mas a gente sabe que não é, né? Você sabe que não é banquete. Você sabe que não pode saciar a minha fome agora. Você sabe e tem plena e total consciência disso, mas mesmo assim espera que eu, com fome, negue o pouco que você tem pra me dar.

Como que faz isso, ein?

Me dá dor de estômago pensar que escrever sobre isso pode fazer com que você não veja mais meus stories, não leia mais meu blog, não acompanhe mais meus tweets, ou não me dê mais sinais de que você está fazendo isso porque eu ainda tenho em mim a vontade imensa de compartilhar a minha vida com você. Eu ainda tenho dentro de mim a vontade de que você me conheça e me redescubra todos os dias. Ainda tenho em mim a vontade de te redescobrir todos os dias também. É por isso que toda vez que estivemos juntos eu me coloquei inteiramente à disposição de quando você quisesse. E é por isso também que quando não estamos juntos, eu caio naquele lugar horrível e percebo a merda que eu posso ta fazendo falando isso. 

É porque não é suficiente, sabe? E aí eu fico sem energia.

A minha fome de você faz com que eu aceite absolutamente qualquer coisa que você tem pra me dar nesse momento. Mas isso não alimenta. Um flerte não alimenta quem tem sede de uma vida a dois. Um desabafo sobre como querer muito algo lá na frente, não alimenta quem está ali "na alegria e na tristeza, na saúde e na doença" querendo acompanhar os seus processos. Ouvir novidades e falar só sobre conquistas num café da tarde não vai alimentar quem entrou nessa pra ser segurança e se sentir seguro o suficiente pra destampar as feridas, de ser fraco e vulnerável sem se preocupar com o que vão pensar vendo o pior que você tem pra mostrar e perceber que é isso aí que dá força. 

E eu não to dizendo que ir sem pressa, aos poucos, seja uma péssima ideia e que não tem como acontecer. Eu acredito que isso é, inclusive, uma ideia do caralho. Mas você mesma constatou que o que a gente sente não cabe em nada além de um namoro/casamento. E eu concordo. E por isso que pra gente, mesmo o "ir ao poucos", no flerte, precisa acontecer com um pouco mais de certezas. Pelo menos sobre se sentir pronto e conseguir ver que isso cabe no nosso momento de autoconhecimento. Não da pra ser sob demanda. Ficar pausando. A gente não fica tirando nem o celular do carregador antes dos 100%  porque sabe que dá merda.... 

Me dá medo pensar que escrever sobre isso pode fechar essa porta também. Mas eu preciso me nutrir assim como você precisa e escolheu seu meio de fazer isso. E se pra se nutrir você entendeu que eu não posso estar contigo, que o relacionamento tira de você essa força e capacidade, no meu caso, sinto que você me ajuda a absorver o que eu preciso só porque nossa relação tornava tudo mais leve e em paz dentro de mim. E só lutar com essa inquietude que ser pego de surpresa despertou em mim já vem me demandando bastante.

Meu impulso é de apagar tudo isso daqui, ou sentir isso sem que você saiba, pra que você tenha certeza de que você pode voltar quando quiser. Ou talvez pra não perder esse pouco que você tem pra me dar. Talvez um pouco dos dois. Talvez tenham muitos outros motivos também. Mas olha o que eu faria comigo se fizesse isso? Você mesma me disse que não tem pra me dar o que eu preciso. Você tá falando, por que eu não vou acreditar?  Por que eu vou me enganar dizendo que é o bastante? Porque não é, mesmo. Eu concordo. Caso contrário eu não estaria assim.

Eu não tô dizendo que eu não quero ser seu. Não tô dizendo que você perdeu a sua chance. Não tô dizendo que não quero mais a gente e muito menos que eu não gosto de pensar na ideia de que você talvez esteja se dando conta que é possível sim que, em breve, você consiga se organizar e passar esse seu processo comigo. Muito pelo contrário. Eu quero ser seu namorado/marido/amigo e tudo o que a gente tem direito, você ainda não perdeu a sua chance de ficar comigo, eu quero sim, e muito, a gente junto e eu realmente me lambuzo com as suas investidas na gente. Mas não dura porque no final do dia você ainda acha que eu não caibo no seu momento e aí acontece o efeito rebote. E é esse, mana........ esse efeito é o que, além de não me nutrir, suga todas as minhas energias. 

Eu quero muito a gente. Eu quero muito que quando você tenha vontade de flertar, namorar, paquerar, ir no cinema, ME chame. Mas que seja sabendo que é isso mesmo. Se você sente e sabe que sou EU, somos nós, as portas e janelas ainda estão abertas pra ti. Se você tem alguma dúvida, em algum lugar de você que talvez não seja EU que você queira de verdade ou se você não consegue achar um espaço pra gente, nem aos poucos, no seu momento... me dói e você não sabe o quanto me dói dizer isso, mas eu prefiro que você não faça.