13 de abril de 2022

Casa

Se você pudesse escolher, estaria vivendo exatamente como você tá vivendo agora?

...

Em caso de "não" como resposta:
O que te impede de viver como você quer?






Em um mundo em que todo mundo acaba fazendo suas escolhas de forma individual, as vezes é extremamente importante que você entenda a necessidade de fazer isso também, mesmo parecendo que você tá cortando um pedaço seu fora. 

E parece que você tá cortando um pedaço seu fora porque seus planos fazem parte de você. Arrancá-los de você é o que te faz sentir assim, um pouco vazio, com espaços e buracos para serem preenchidos por coisas que você nem sabe direito o que são e muito menos se quer.

Falando em espaços, eu tenho um teto, uma garagem, cozinha, quarto, área de serviço, sacada, banheiro e sala. Mas isso são só espaços. Buracos e nada mais. 

Eu quero tanto aprender a fazer casa em mim.

Eu já fiz casa no cheiro, no abraço, fiz casa na textura da pele. Fiz casa nos olhos pretos, na voz e no sorriso largo. Fiz casa até no sotaque chiado. "Fiz", no passado. Hoje eu não tenho mais. Porque casa é certeza. É abrigo. É garantia de se ter pra onde voltar.

Será que eu realmente fui tão errado de fazer casa em qualquer outro lugar que não eu mesmo?

Vai saber. 

Acho que ninguém pode me responder isso, na verdade. Eu não escutaria. 


Porque eu acho que a gente não escolhe exatamente onde faz casa. A casa se constrói diariamente diante dos nossos olhos. Você vê tijolo por tijolo sendo colocado um em cima do outro. Vê a dificuldade de fixar alguns deles e vê as paredes tortas em alguns lugares. Só que você olha aquele remendo meio torto e mesmo assim se sente seguro porque você sabe exatamente onde ele tá. Você tava lá quando aquilo aconteceu e você não tem medo que caia por saber que, mesmo assim, mesmo torto, ele ficou exatamente como deveria ficar. Foi cuidado, compensado e virou fundamento também.

Não sei. Acho que é assim que se constrói casa. Sem escolher exatamente onde, mas sentindo que é lá.



É que as vezes tudo aquilo desmorona e quando isso acontece, acredito de verdade que outra casa se constrói logo ali pela frente.

Bom, talvez eu ainda tenha que passar algumas noites olhando as estrelas. Talvez ainda precise pegar alguns dias quentes ou chuvosos na cabeça até conseguir fazer casa de novo. Mas até lá tudo o que me resta é sentir.

E eu sinto o que tiver que sentir. E vou deixando pelo caminho tudo o que precisar deixar. Vou soltando as mãos e os dedos pra que dê tempo dessas feridas que se abriram por tentar segurar as paredes dessa casa até o último minuto, cicatrizem.  

Porque só assim, quando a oportunidade de ficar cara a cara com a minha chance de fazer casa de novo aparecer, vou estar com as mãos livres e prontas pra voltar a construir. 



Imagino que em algum momento eu consiga ver o quanto vai ser bom poder fazer casa no lugar em que eu for casa também. 

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