15 de agosto de 2020

Dando o tom

Foi secando os olhos e arrumando os cabelos que dei meu primeiro passo pra cura. Porque curar significa permitir. Permitir que algo mude lá no mais íntimo dos sentimentos. Curar significa ser sincero de verdade - de verdade porque é difícil ser sincero até a sua última escama.


Arrumei a franja e passei as costas da minha mão direita no canto externo do olho esquerdo. Foi assim que arrastei um dos meus cílios que tinha acabado de cair e o grudei na membrana desse mesmo olho. Aí que me dei conta que, mesmo sinceramente permitindo a cura, a cura ia incomodar. 

Porque uma decisão assim não vem de graça, de leve, sem pedir passagem enquanto te olha no fundo dos olhos e grita há menos de 8 centímetros do teu ouvido, com uma voz dessas que penetram e que rasgam o cérebro e te fazem cerrar os olhos, franzir a testa e xingar mentalmente sem nem se dar conta que resmungou. 

Até que você se dá conta e levanta meio sorriso do lado direito do rosto. Com metade da boca, mas completamente sincero - 
A cura coça.

Nada é por acaso. Nada é tão nada a ponto de não deixar nenhuma marca na carne ou na pele. Acho que tudo tem o potencial de marcar e esse aqui, eu quero que seja o meu novo marco zero. É daqui que eu quero começar, mesmo sabendo que não é desse jeito que a banda toca.

Tudo o que já foi, ficou. Ficou marcado, cravado, sussurando ou gritando novas rotas. Novas conquistas, novas derrotas. E tudo continua lindamente igual. 

Não na letra nem nas notas dessa música, mas na forma encantadora que a vida tem de dar o tom.

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