1 de abril de 2022

Ontem

Você percebeu que eu não queria te soltar? Que eu te colei no meu corpo e não quis te deixar ir? Você sentiu meu coração nas suas costas batendo mais apertado toda vez que eu lembrava que aquela provavelmente era nossa última noite?

Você conseguiu ver a tristeza nos meus olhos? Conseguiu enxergar a dor da despedida? Eu só pude fazer isso.

E agora estamos assim, no começo de um fim que deve demorar muito tempo pra virar outra coisa. Tanto tempo que eu prefiro não pensar que possa acontecer. 

Estamos aqui, assim. Eu e você, mas não mais nós dois. 
Sabia que eu não consigo dormir no silêncio? Ele me grita duplicidades demais. Não porque elas realmente sejam dúvidas, mas porque eu ainda luto contra essa certeza que foi jogada na minha cara: não vejo saída pra nós.

Ouvir isso foi duro e ta me custando aceitar.

Sabia que eu não consigo mais apagar a luz? E que depois de vários dias, eu só consegui dormir de verdade quando eu tava na sua cama? Você é minha paz e eu sou a sua angústia. E eu não consigo pensar no que poderia ser pior que isso.

Se você sentisse só metade da certeza que eu sinto, a gente recomeçaria de outro lugar. Não com pressa, mas chegaríamos nesse momento juntos, com a leveza que nós dois conquistamos quando o assunto é sobre a gente. Nós dois.

Mas no final do dia eu acabo sendo só um paraquedas, um colchão de ar pra que você se jogue sem se machucar tanto. Você quer ir aos poucos, você precisa me soltar aos poucos, precisa que eu segure a bicicleta até você conseguir começar a pedalar, confiar em si mesma e ir na direção oposta.

O que eu quero de você é simples:
Olha pra mim, olha pro que é nosso, pensa em tudo o que você sabe que faz parte de quem eu sou hoje, mas não ignora o que você traz de mim também, porque eu sou o produto disso tudo. Você não tem que tentar apagar o passado. Precisa olhar pra ele e  me ver hoje como produto de tudo aquilo que eu fui. Individualmente e com você. 

Se você precisa me desligar da minha história pra conseguir ver sentido em alguma coisa, não faz sentido nenhum.

Eu nunca neguei o fato de nós precisarmos mudar algo. Eu também pude ver que não tínhamos como ver futuro de onde estávamos. Mas claramente não estamos mais lá. Podíamos recomeçar aos poucos, no tempo individual de cada um. Isso que é dar uns passos pra trás como você me falou que precisa e não zerar tudo, "virar a chave" e fingir que é outra coisa. Que eu sou outra pessoa. Isso nunca vai acontecer.

E eu te digo isso porque você vai levar um pouco de mim sempre. E vai entregar isso pra quem estiver com você. É isso que a gente faz. Se constrói com o outro e mesmo que a gente siga separado, leva um pouco daquilo adiante.

Ouvi em algum lugar que:
"A gente não confia em uma pessoa pelo que ela promete, a gente confia pelo que ela cumpre. A gente não conhece alguém pelo que essa pessoa aparenta ser, mas pelo que ela é. A gente não conhece alguém pelo que essa pessoa diz. É pelo que ela faz." 

Eu sei que você não consegue não ver a gente, sei que você acredita que o que a gente tem é foda, eu sei que você ama dividir a vida comigo. Eu sei disso tudo, mas e você?

Por isso entenda de uma vez por todas que seus motivos são incontestáveis pra mim. É sobre a sua vida, suas dificuldades e processos e eu nunca, nunca seria diferente do que to sendo com as suas escolhas. Mas entende também, por favor, que isso não muda o fato de que nós não somos parte delas. Não diz que é por nós.

Você não está nos escolhendo pra depois, isso é só uma hipótese que pode estar sendo baseada em qualquer coisa nesse momento, inclusive no seu medo de não conseguir encontrar alguém que te faça tanto sentido quanto a gente te faz. Você não ta escolhendo a gente pra depois, você ta escolhendo simplesmente não ter mais a nossa história, nem o que foi e nem o que sonhávamos juntos pra gente. 

Mas talvez seja isso mesmo que você sinta que realmente quer e precisa fazer.

Só me fala. Você me deve isso.

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