Eu quero o outono e as folhas secas no chão. Quero a melancolia das cores gris. O frio que invade o peito e dificulta o caminhar. Quero aquele sol que não esquenta, que não conforta. Aquele sol que some logo, antes mesmo de escurecer. Quero aquelas nuvens brancas e cinzas, aqueles pássaros fugindo e mais e mais folhas secas voando por aí. Eu quero que a rosa murche, seque, morra e caia no chão. Quero ver as pétalas escuras, sem cor, sem vida. Quero o cheiro da chuva que não cai, da grama que não brota, da terra secando e também perdendo a cor. Eu quero o céu mais escuro, eu quero noites mais longas, quero poder dormir pra sempre e sentir toda a dor. Quero sentir até que eu congele, lembrar até que eu esqueça, chorar até que eu ria, gritar até que eu perca a voz. Eu quero dormir até perder o sono e então acordar até não conseguir mais ficar de olhos abertos. Eu quero esquecer até conseguir esquecer de verdade. Eu quero bem perto até que tudo se afaste, porque tudo sempre se afasta. Por que tudo sempre se afasta? Eu quero afastado porque eu mergulho nas lembranças e é lá que eu tenho perto mais uma vez. E então eu esqueço, ou tento.  E eu quero esquecer até conseguir esquecer de verdade.