Um mundo distante (ou nem tanto).

Ela se perde no meio da noite. Se perde como se não soubesse de que lado veio. Se perde como se não soubesse pra que lado ir. Ela se espanta e se assusta com a sombra, com o ruído dos seus ossos que rangem a cada passo assustado que ela dá de encontro ao “alguma coisa”.
Ela se debruça pelas janelas e pelas prateleiras procurando alguma coisa que ela sabe que está ali, em algum lugar. Ela não sabe o que é, mas sabe que vai saber assim que tiver isso em suas mãos. E ela nem sabe se cabe na mão.
Ela se perde dentro do quarto, por baixo da cama. Ela se confunde reabrindo gavetas que já abriu. Não sabe por que seu coração bate tão sombrio e acelerado, tão assustado e desesperado, tão angustiado e pesado, tão triste e despedaçado.

E enquanto eu viro as páginas do meu caderno em branco, consigo ouvir a lágrima contornando os lábios dela. Não tiro os olhos dela e nem do meu caderno também. Não pronuncio uma só palavra, como se aquele silencio que a incomoda tanto despertasse certo prazer em mim, assim como aquele cheiro de loucura que se espalha pelo ar.
Logo eu, que amo tanto...

De tempos em tempos ela se descobre um monstro que fere, que fura, que mata;
De tempos em tempos eu não me importo com isso. Eu aprendi a entender;
De tempos em tempos eu me torturo e me convenço de que vai ficar tudo bem no final;
De tempos em tempos eu prefiro não a conhecer;
De tempos em tempos eu percebo que é melhor seguir sem ela;
De tempos em tempos eu percebo que é exatamente isso que eu não quero fazer.


Às vezes a gente precisa das pessoas mais perto da gente. Principalmente quando a gente não quer que elas estejam ali.