Enquanto ele se ocupava achando que era só uma frase fora do contexto, não tinha tempo pra perceber que ele era a base de todo o livro.
Ele andava meio sem chão, morava meio sem teto, dormia meio sem cama e se protegia meio sem paredes. Não que estivesse assim literalmente, mas se sentia como se fosse. Cada passo que ele dava era recheado de certezas. A certeza de um futuro incerto, a certeza de um passado cada vez mais distante, a certeza de que, independente da direção que ele corresse, lá definitivamente não seria o seu lugar.
O vaso, as flores, o cheiro da terra molhada, todo o familiar era meio estranho. Coisas que nem pareciam ser dele realmente. Lembranças que vinham como se fossem de vidas passadas, sem nitidez, sem cor, sem margem, sem saudade, sem dor, sem felicidade, sem nada.
Seus objetos pessoais, largados como da ultima vez que ele esteve ali. As roupas sem cheiro, as cartas meio amareladas e a caneta meio sem tinta, a parede ainda riscada, a cama ainda arrumada, a foto ainda rasgada, a lagrima ainda manchada no pedaço de papel riscado e apagado com rabiscos. Tudo exatamente igual ao que ele mal lembrava.
Era a chance de ver tudo aquilo como um espectador. Sem influencias, sem conseqüências. Era só ver, observar, analisar cada passo naquela estrada longa e sem iluminação.
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