9 de outubro de 2009

E o meu...

Já faz tempo e eu nem lembro mais. Não lembro se desisti, se joguei os panos, se resolvi deixar pra trás. Se cansei de sofrer, se cansei de lutar, se cansei de dizer ou de tentar dizer. Não lembro se esqueci a senha ou as chaves. Não lembro se esqueci o caminho de casa, o caminho da casa, o caminho de volta... Eu não sei dizer se foi a noite mais fria do ano, mesmo assim ainda penso que foi. O ponto exato pode até ser um mistério, mas as consequencias eu acabei percebendo com o tempo. E depois de tudo isso a gente esquece das coisas porque faz muito tempo que passou. Esquece como recuperar, como voltar atrás. Esquece como se cultiva e como se agradece. Esquece como se fala. A gente perde a prática de entender todos os momentos de silêncio. Parece que vai gastando e a gente vai perdendo a prática de tudo. A prática de perguntar, a prática de ser presente. A gente perde a prática de ser alguém importante e começa a ser mais um. Mais um no meio de tanta gente insignificante. Hoje a gente não significa mais. E por mais que o passado faça com que nós tenhamos um pensamento de obrigação em não deixar isso acontecer, isso acontece. E tudo vira uma imensa bola de neve, branca, que desce destruíndo tudo e tirando as forças. Você esquece como se luta, esquece como se faz pra começar a lutar. Esquece como se aquece o coração, como deixa ele quentinho lá dentro. Você esquece como chamar atenção, esquece como ser a prioridade inicial da lista. A gente esquece depois que deixa de praticar. Perde a pratica, perde a força de praticar. Esquece o que dizia e como dizia. Esquece o que foi dito e prometido. Esquece porque já não se ouve mais a promessa, esquece porque já não se promete mais. Isso tudo porque cansa. Cansa tentar empurrar a bola de neve pra cima. Ela pesa e faz a gente se sentir um nada. Ela suga as nossas forças e nos dá um ar de impotencia pra respirar. E esse ar destrói tudo por dentro. Explode os pulmões. A gente fica sem ar, sem querer o ar. Nossa consciência aproveita pra enganar a gente. Usa toda a sensação de angústia e desespero, assimilando com o que não tem nada a ver com ela. Casando com o que só faz bem e engana a gente. Prega a peça direitinho e corrompe a integridade dos fatos, a sinceridade dos sentimentos. Multiplicando tudo pela crueldade do tempo a gente fica de um jeito que nem lembra mais. Não lembra se desistiu, se escolheu assim. Não lembra se escolheram pela gente. Não lembra de quem é que foi a culpa, nem se teve culpa. Não lembra de quem foi o erro e nem a escolha. Não lembra o que fazia tudo isso não se perder no meio de tanta oposição.
E aí? Eu também não sei. Também não sei o que pensar. Não sei das ruas e dos ônibus. Não sei dos amigos e dos trabalhos. Não sei da escola, do curso. Não sei de mais nada. De mais ninguém além do que eu tenho dentro de mim.

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