Já passava das onze e ele, sentado no seu quarto, escrevia à luz de vela.
Era só mais uma carta que criptografava os seus pensamentos...
Enquanto a vela queimava sobre a mesa, todos os seus sentimentos mais intensos saltavam pelos póros. Era o jeito que ele encontrava pra se libertar, colocar pra fora aquela pessoa recolhida pelas mágoas e pelo cansaço.
Na realidade ele nem sabia direito o objetivo disso tudo. Só escrevia o que sentia. Era disso que eram feitas todas as suas histórias: De sentimento.
Não precisava de sentido, de razão e de coerência. Eram só palavras jogadas pelas linhas apagadas de um caderno amarelado pelo tempo.
Um menino atípico.. que trocava qualquer coisa por um canto solitário.
Nunca gostou de ouvir boatos e se desprendia do plano material quando se encontrava intimamente com a sua inimiga interior: A própria consciência.
Era ela quem o fazia pensar nas coisas. Ela que trazia à superficie o que ele sempre temeu. Ela sempre surgia das profundezas do seu ser e fazia brotar uma sensação fúnebre, congelando as suas costelas e a espinha até chegar na nuca...
Na realidade essa sensação já era indiferente.. afinal sentir a presença da morte sempre lhe foi bastante familiar. Convivia com isso constantemente.
Era alertado todos os dias de como a vida era uma parte superficial de toda a sua existencia...
E ele vivia simplesmente no aguardo do resto da sua eternidade.
Quem o via de fora dificilmente compreendia o seu jeito de pensar. Raros eram os que o viam. Mais raros ainda os que tentavam compreender.
Tudo bem, era só um detalhe de todo o resto da vida.
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